Com a chegada do final do ano, gosto de fazer uma retrospectiva do que fiz e de estabelecer objectivos para o novo ano. O meu maior feito, em 2014, foi a mudança para a ilha de São Miguel. E com esta mudança vieram os 10 desafios para eu superar.
O primeiro foi gerir a tralha toda que acumulamos individualmente e enquanto casal. Acreditem, nunca pensei que tivéssemos tanta coisa. Entre pratos e talheres, decorações, quadros, mobília, electrodomésticos, roupa, ficamos atolados de caixotes e fita adesiva até acabar a primeira mudança. Embrulhar tudo o que é frágil, etiquetar os caixotes, anotar o que está dentro deles, fechar tudo... Tudo isto se tornou mecânico e automático.
O segundo desafio foi conseguir enviar os veículos para a ilha, de forma a que chegassem imaculados. Mas entre a carpintaria e a engenharia, lá conseguimos.
O terceiro desafio foi a despedida. Saber que o dia X se está a aproximar e será uma inevitabilidade é tramado. As emoções foram difíceis de gerir.
O quarto desafio foi ficarmos separados pela primeira vez, durante tanto tempo. Tenho a perfeita consciência de que há situações de casais bem piores, mas cada um gere a sua como pode. E eu não geri a minha da melhor forma. Estava habituada, dizem.
O quinto desafio foi deixar a nossa realidade enquanto casal e passar a ter uma nova realidade, muito diferente da nossa. Não estou a dizer que é melhor ou pior. Mas sim um elemento novo para nós, que tivemos (e temos ainda) que superar.
O sexto desafio (pelo menos para mim) são as saudades. As saudades da família, dos amigos, dos lugares, dos passeios, da possibilidade de fazer algo. Viver nos Açores dá-nos uma qualidade de vida que não se consegue em parte alguma no continente. Mas por outro lado, tira-nos a sensação de termos a possibilidade de escolher o que queremos fazer. Um exemplo muito simples: aqui podemos escolher a qual shopping queremos ir, se quisermos ir ao cinema.
O sétimo desafio é saber que, quando voltar, não vou encontrar as mesmas pessoas. Sei que foram tentar a sua sorte para longe... Canadá, talvez. Isso é um desafio que não sei se consigo superar, porque não sei se consigo aceitar a ideia de vocês (sabem quem são) irem para tão longe. Vou ter tantas saudades. Sei que também estou longe, mas que, quando regresso a casa, vocês estão lá. E isso não vai acontecer da próxima vez.
O oitavo desafio é gerir a vida sem as tralhas arrumadas no primeiro desafio. Sei onde estão essas minhas coisas, mas não lhes posso mexer. Não tenho lugar para elas no meu novo mundo. Por enquanto ficam nos caixotes e peço para que não se estraguem com a humidade. Se tenho essas coisas todas, que comprei (ou compramos) quero usufruir das mesmas. Mas não posso...
O nono desafio é chegar a casa e ver tudo o que é meu em caixotes. Já não bastava os caixotes que levamos, os meus pais resolveram encaixotar parte da minha existência. Não foi a minha existência completa, foi só parte. Mas faz-me pensar no que eles próprios passaram quando saíram da casa dos pais. Será que levaram tudo com eles ou também foram deixando fragmentos para trás, para dar aquela sensação de conforto?
O décimo desafio é ser capaz de superar estes nove desafios e entrar em 2015 com energia para enfrentar mais uns tantos.
Por isso, sinto-me constantemente encaixotada...
Rita D.*