Bom dia,
A semana mal começou e já desejo que seja sexta-feira. Todos
os dias são uma verdadeira aventura. Nunca sei como vai terminar. Mas depois
sabe tão bem chegar a casa, vestir um fato de treino e enroscar-me no sofá.
Estou feliz. Hoje é dia 19. Para mim, isso significa muito. Obrigada
à N. que insistiu comigo um dia, para eu sair da minha zona de conforto.
Obrigada ao M. por caminhares ao meu lado, nestes dias difíceis. Sei que não
fácil de gerir, especialmente nos últimos tempos, mas tens aguentado firme e
isso é muito importante para mim. Adoro que me faças rir todos os dias. Adoro
ver-te tocar guitarra. Adoro mais coisas, mas isso fica entre nós.
Tenho tanto para fazer e não sei como. As horas não esticam,
os dias não crescem. Parar não é opção, nos dias que correm. Desistir muito
menos. “Porque não vais para fora?” muitos perguntam. Como já escrevi
anteriormente, quero ficar no meu país e ajuda-lo a erguer-se desta miséria em
que nos deixaram. É complicado, mas acredito muito no potencial de Portugal. Aquele
potencial que teimam estragar. Portugal é dos poucos países (se é que existe
mais algum) onde se consegue ir à praia de manhã e estar numa montanha com neve
na parte da tarde. Isto no Inverno. Consegue-se ver paisagens tão diferentes em
poucas horas. Mas não, preferem explorar temas como o golfe, que só tem
interesse para cerca de 2% dos turistas.
Muitas pessoas dizem que sou corajosa, que sou ativa e que
não baixo os braços. Eu bem tento. Multiplicar-me pelas diversas coisas com que
me comprometo. Estágios, bolos, workshops. Mas tem que chegar o dia em que também
recebo algum retorno por todos os sacrifícios que faço diariamente. Eu e toda a
gente, claro.
Abdico de algumas coisas diariamente, em prol de outras que
podem (ou não) ser algo mais no futuro. Mas esse futuro nunca mais chega. Estive
a fazer as contas, estou há mais de seis meses desempregada. Como (sobre)vivo? Com
muita ajuda e muita força de vontade para esticar todos os cêntimos até ao
final do mês. Tenho uma rede de segurança, a minha família, pela qual estou
extremamente agradecida. Mas nunca mais chega o dia de conseguir retribuir
todos os sacrifícios que fizeram por mim ao longo destes anos. Dezoito anos de
estudos e um semestre de Erasmus em Padova. Não sou burra, sei que abdicam de
muitas coisas que podiam fazer para dar aos filhos tudo aquilo que os faz
felizes. Não é justo. Não é justo puderem usufruir da sua vida.
Tenho saudades de uma ida ao cinema. Passear pelo Porto. Estar
com os amigos. Almoçar com a família. Passar uma tarde no sofá a beber chá e
comer castanhas. Viajar. Ler um livro. Tanta coisa. Pequenos detalhes. Tenho saudades
do dia em que tinha a possibilidade de comprar uma peça de roupa, cometer uma
pequena extravagância. Acredito que esse dia vai chegar.
As pessoas dizem que, desde que se tenha saúde, o resto não
tem tanta importância. Mas nem sei se isso tenho. Os exames estão todos
normais. Não há uma pequena ponta solta por onde se possa pegar e que explique
o que se passou. É bom sinal, eu sei. Não é nada de grave. Mas o que me garante
que não se volta a repetir? Não senti nada, não previ o que ia acontecer. Da
última vez, lembro-me de estar muito tonta. Desta vez não. Não posso viver
nesta insegurança nem deixar de fazer coisas que normalmente faço, porque esta
dúvida paira na minha cabeça. Não posso.
Vou dedicar-me a outras tarefas…
Rita D.*