terça-feira, 4 de outubro de 2011

Baú de Textos 3 - Carta aberta

Estou ferida. Estou magoada. Estou ressentida. Estou desiludida. Estou triste. Estou apática. Contigo, comigo e com a vida. Contigo porque conseguiste ser ainda mais cruel do que aquilo que já tinhas sido. Não tens a maturidade para me dar as respostas, mesmo depois de me tratares como se não significasse nada para ti. Não tens a coragem sequer para falar comigo cara-a-cara, de me enfrentar. És um cobarde. Um fraco que não me consegue ver sofrer, mas que gosta de me fazer sofrer. Comigo, porque te deixei entrar. Nunca o devia ter feito. Já devia de saber, já devia de ter aprendido a não confiar. Com a vida, porque te empurrou até mim naquele dia, aproximou-nos e depois tirou-te de mim, sem o mínimo de consideração. Não sou capaz de te perdoar. Não agora.
Estava tão bem sem ti. Estava feliz, leve e serena. Pela primeira vez, em muito tempo, estava bem comigo mesma e com o que me rodeava. Porque é que resolveste estragar tudo? Que prazer doentio tiveste e tens em ver-me sofrer? Ah, tu não vês. Pois, estás longe, não te queres encontrar comigo. Bem mais simples esta saída. Podes achar que dizer essas “verdades” são melhor para me afastar de ti, mas não são. São o melhor caminho para eu não confiar nas pessoas, para andar ressentida com a vida. São o caminho indicado para eu nunca mais confiar em ti, nem sequer considerar a hipótese de ser tua amiga. Às vezes dou por mim a querer contar-te qualquer coisa, uma novidade, uma cusquice qualquer, mas não posso. Não posso dizer-te que estou triste. Não posso dizer-te como correu o meu dia. Não posso dizer-te a falta que me fazes. Não te posso contar as novidades. Porque não queres saber, não estás minimamente preocupado com isso e depois porque já não confio em ti.
Acabaste o namoro comigo sem motivos válidos, agora vejo mais claramente. Tu simplesmente desististe quando achaste que as coisas iam ficar mais complicadas. Fraco. Não me mereces. Definitivamente. Não mereces que alguém goste de ti como eu gosto de ti, porque as tuas inseguranças vão levar-te sempre a estragar tudo. Claro que não estás à minha altura, mas isso é porque tu não quiseste estar, com estas tuas atitudes imaturas, que só demonstram que tudo o que vivemos foi mentira. Não gostas de mim, nem sei se chegaste a gostar. Diz-me, era tudo para ver como seria namorar com uma rapariga mais velha?
Disseste que querias continuar a ser meu amigo, mas assim que me aproximei de ti, a tua reação foi afastar-me, violentamente. Não gostas de ser pressionado. Paciência!! A vida está cheia de coisas que não gostamos. Habitua-te. Disseste que ia ser a tua prioridade. Que me adoras. Que as coisas iam ser como antes, que íamos falar todas as noites. Mentiroso. Preferes esquecer e deixar-me sozinha, porque para ti é mais fácil, do que saber que estou triste. Tens o tempo todo para organizares a tua vida, como pediste. Estás à vontade. Perdeste, provavelmente, uma das melhores coisas que tinhas na vida. E tu sabes disso. Eu sei que sabes. Eu perdi o meu melhor amigo, sobretudo.
Sentia-me amada, querida por alguém, segura. Sentia que podia deixar-me cair de costas que tu me ias apanhar. Pela primeira vez na vida. Mas afinal era tudo uma grande mentira, não era? Confundiste os sentimentos, não foi? Ou sentiste-te tão arrebatado pela atenção de uma rapariga mais velha, que ficaste iludido? As coisas que me disseste não se confundem, sentem-se e ponto final. Mas para ti, agora, isto não passou tudo de uma bela amizade. Não teve qualquer significado para ti. Mais uma para a lista.
O erro talvez tenha sido começarmos a namorar demasiado rápido, mas foi a forma como as coisas evoluíram, com muita velocidade. Sei que foi prematuro e reconheço isso. Devíamos ter dado tempo ao tempo, mas aconteceu. Não temos uma segunda oportunidade, ambos a desperdiçamos, ambos a deitamos pela janela fora. Agora tenho que aprender com os meus erros, aceitá-los e seguir em frente.
Nós começamo-nos a afastar quando vim morar para Braga, porque não estava contigo à semana e, se calhar, não me perdoaste por isso. Por isso foi se tornando mais complicado para nós estarmos juntos, só ao fim-de-semana, mas tu tinhas que dividir a atenção com a minha família. Mas nunca abdiquei de nada para estar contigo, porque era contigo que eu queria estar, eras a minha prioridade. Queria ser a tua prioridade. E nunca te pedi para abdicares de nada por mim, antes pelo contrário, sempre te disse para fazeres as tuas coisas.
De acordo com Elisabeth Klüber-Ross, quando sofremos uma perda, passamos por cinco fases diferentes de dor. Começamos pela negação. A perda é tão impensável, que achamos que não pode ser verdade. Zangamo-nos com todos. Zangamo-nos connosco mesmos. E depois negociamos o que sentimos. Imploramos. Pedimos. Oferecemos tudo o que temos. Quando a negociação falha e é difícil continuarmos zangados, entramos em depressão. Em desespero. Até que aceitamos que fizemos tudo o que podíamos. E deixamos ir. Deixamos ir e passamos à aceitação. Eu ainda estou na fase da ira, de estar revoltada com tudo e com todos. Principalmente com todos, porque ninguém foi capaz de me alertar para o perigo que era estar contigo. Preferiram ver-me dar com a cabeça na parede com força. E agora quem apanha os cacos e cola tudo? Tu não és, já que não estás cá para ver os estragos que causaste, nem para ajudar a colar. Ao invés, até resolveste pisar mais um bocado nos estilhaços.
A dor pode ser algo que todos temos em comum, mas é diferente em cada um de nós. Não é apenas a morte que temos que chorar. É a vida! A perda! A mudança! E quando nos perguntamos porque tem de ser tão mau, porque tem de doer tanto, é quando percebemos que tudo pode mudar de repente. É assim que nos mantemos vivos. Quando dói tanto que não conseguimos respirar. É assim que sobrevivemos e continuamos. Hoje dói tanto que não dá para respirar nem comer. Como é que eu me deixei chegar até aqui? O pior disto tudo é que não tenho controlo nenhum sobre a dor ou a tristeza, aparece quando menos espero e quero, sem aviso prévio, e desarma-me por completo. Atira-me ao chão. Tento pensar em coisas boas que abstraiam o meu pensamento de ti e desta tristeza que sinto dentro de mim, por vezes é complicado. Tenho que me ocupar, cursos, voluntariado… Para não pensar em ti.
Às vezes quando penso que já a estou a ultrapassar, ela começa de novo. E de cada vez que começa... deixa-me de rastos... sem fôlego. Depois qualquer coisa, por mais insignificante que seja, é motivo de tristeza.
Agora o que realmente preciso é de voltar a encontrar aquele lugar, onde estava antes de te conhecer. Lá sim, era feliz. Os últimos três meses, aparentemente, foram uma espécie de realidade alternativa, de sentimentos confundidos. Quero ser aquela pessoa que sorri por nada, que está bem com tudo o que lhe surge na vida e abraça todas as oportunidades. Quero viajar. Quero conhecer pessoas novas. Quero aprender. Quero divertir-me. E acima de tudo quero esquecer-te, porque lembrar-me de ti, neste momento, não me trás boas recordações. O meu caminho é sem ti, não te quero. Admito que talvez te aceitasse de volta, mas agora já não. Não. Não depois da forma como me trataste estes dias. Eu é que sou a idiota, que, apesar de tudo, tentei aproximar-me de ti. Para dar no que deu. Eu nunca fiz nada para merecer que me tratasses como tu me trataste. Nunca!!
Quero que o tempo passe, para chegar o dia em que te consiga agradecer. Agradecer por teres estado presente na minha vida, pelas coisas boas que me trouxeste. Agradecer-te porque parte do que sou hoje devo-te a ti, mas acredita, é uma parte ínfima, microscópica. Agradecer-te também, porque saíste da minha vida, por me teres terminado o namoro. Agradecer-te ainda pelas coisas que aprendi contigo. Mas neste momento tudo o que consigo ver é mágoa. E tudo o que me apetece é tratar-te mal, como me trataste. Mas não tenho esse perfil. Tempo é o que eu preciso. Para voltar a ser eu, o que não vai acontecer enquanto pensar e gostar de ti. A medicação torna-me mais instável, é certo, e, talvez, 80% destas palavras sejam exageradas. Sejam fruto da discrepância da realidade que eles causam. Mas muitas delas são o que sinto.
Não te preocupes, não vais ler estas palavras tão cedo. Não mereces ler o que escrevo sobre ti. Não tens esse direito. Escrevo e guardo. É a minha forma de exteriorizar os meus sentimentos. Numa folha de papel.
Sou superior a tudo o que me fizeste. Queixo para cima. Encher o peito de ar e seguir em frente…


Rita Dinis, 14/09/2011

Sem comentários:

Enviar um comentário