The elephant in the room
O elefante entrou no quarto (não sei por onde) e agora é impossível fazê-lo sair…
As estradas têm dois sentidos. Tirando aqueles de sentido único, que deve ser onde estou agora. Infelizmente há um veículo que gosta de andar em contra-mão e abalroar o que está à frente.
Nunca pensei dizer isto, mas estou ansiosa que o Erasmus acabe. Para respirar. Sinto que me puxam para baixo quando quero ir à tona e respirar. A culpa também é minha, claro. Quem me disse que era inteligente amarrar uma pedra à perna quando se vai dar um mergulho? Devia de ser mais forte e encarar o problema de frente. E não esconder-me debaixo de água.
Talvez a culpa seja inteiramente minha, por não fazer um esforço para compreender. I’ve been there. Ainda bem que tive alguém que me estendeu a mão e me fez entender o que era preciso fazer. Mas, claro, nem toda a gente gosta que se lhe estenda a mão. Preferem puxar, puxar e puxar o mais que podem para baixo. Gostava de puder ajudar, a sério que gostava, mas não sei o que dizer nem o que fazer.
Eu sou frágil, embora tente parecer forte. Mas é tudo uma fachada. Sou uma boneca de porcelana, numa prateleira velha e usada, quase a cair. Tem aquele olhar triste de que quem precisa de colo, mas não há ninguém para o dar. Antes preferia ser uma boneca de vudu, que, apesar de tudo, sobrevive sem ferimentos a todas as externalidades.
Admito que esteja nervosa e algo ansiosa com os exames. São apenas três e não quero desiludir ninguém, nem mesmo a mim, nem mesmo aos meus pais, que tanto se esforçam para eu ter tudo o que preciso. Mas escondo atrás dos doces ou atrás das séries. Depois fico com peso na consciência (e não, a minha consciência não é um grilo, é alguém muito melhor).
Se calhar estou apenas a ser castigada por não ser boa pessoa. Podem dizer que é mentira. Mas eu sei que não é. Lá no fundo, não sou nada boa pessoa. Talvez seja isso que esteja a vir à tona agora. E quem está por perto, é atingido pela minha maldade.
Só tenho uma certeza neste momento. O meu coração está apertado, apertadinho. Como se estivesse a mingar. A culpa é minha. Deveria ser capaz de abrir a boca e dizer o que me vai na alma e não escrever o que me vai na alma e guardar numa pasta com músicas, para ninguém encontrar. Daqui para a frente, as coisas não se vão tornar mais fáceis. Preciso de uma palhinha para respirar.
Agora estou ressentida e não tenho nada para lhe dizer. Na semana passada, chamou-me amuada, seca e arrogante. Talvez estivesse. Mas esta semana fizemos “tréguas”. Pelo menos por umas horas. Humm… Imaginem este cenário. Pode acontecer. Estão dois rapazes giros e simpáticos numa sala de computadores. E estou interessada neles, pelo menos até descortinar qual deles, jogo em ambos os campos. Há um computador livre. Quem se senta lá? Posso garantir que não fui eu. Ou então, quando quero estar sozinha com um deles, não é possível. Não percebe as indirectas. Depois fui desanuviar. Encontrei a Luísa, a Marta e a Maria e fomos até ao centro. Comprei um vestido. E umas meias-calças.
Mas o pior de tudo começou na quarta-feira. Logo num dia que até estava a correr bem. Foi o dia da festa portuguesa no Le Queen. Estivemos a tarde toda na Meneghetti a cozinhar com o Mati, o Stefano e a Giorgia. Diverti-me imenso. Como tinha sobrado carne, resolvemos comer todas juntas (as raparigas portuguesas da Meneghetti). Perguntei se se queria juntar a nós. Huuuuuuge mistake. Senti-me a ser atacada por todos os lados. Por outras palavras, foi agressiva, seca e arrogante. Só me apetecia chorar. Coitado do Bruno, levou com as minhas crises existenciais. Mas depois disso, a noite foi muito divertida, com músicas portuguesas a passar a noite toda. Dançar até não puder mais. De vestido. Desde quarta-feira, que tem sido assim a minha vida. Preso por ter cão, preso por não ter. Se faço sopa, é porque faço sopa. Se vou às compras, é porque vou às compras. Caramba. Nunca nada está bem.
Será que está mesmo à espera que esqueça o que me disse e como disse e que voltemos a ser amigas como dantes? Não me parece. Não é assim que funciona. Não se pode espetar uma espada propositadamente em alguém e vir socorrer a seguir como se nada tivesse acontecido. Está bem que estivesse mais seca na primeira semana. Mas depois fiz de tudo para tentar estar aberta e compreensiva. Dizer “bom dia” com um sorriso. Perguntar se quer sair. E é assim que me pagam. Agora voltei ao voto de silêncio. Era onde estava melhor. É insuportável. Mas é mais suportável do que ser chicoteada com palavras.
Quinta-feira… Fui jantar com os portugueses (e o Javi) ao Tio Pepe. Também a convidaram, claro. Depois fui para casa da Joana e da Sofia até ter a certeza que a costa estava livre para puder voltar. É assim que vivo. A evitar… Não é vida que recomende a ninguém.
Não está fácil, não. Não era assim que queria que o meu Erasmus acabasse. Já quase toda a gente percebeu que não estamos bem. Não é preciso ser um génio. Aguardemos melhores tempos.
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