Todos os dias tenho milhões de palavras na minha cabeça. Todas juntas formam frases. Que todas juntas formam textos. Mas tenho sempre muita preguiça para passar tudo para uma folha de papel.
Como muitos (ou não) sabem, mudei de região no ano passado e, em grande parte, sinto-me emigrante. A cultura é nova, as pessoas são novas, o dialeto é diferente. Até o que há nas lojas é diferente. Para mim, existem diversas dificuldades à minha adaptação. É, ainda, processo em desenvolvimento. Todos os dias é uma conquista. O que mais me “aflige” é toda a questão da insularidade. Viver numa ilha, no meio do Oceano Atlântico. Passam sempre muitos “E se…?” pela cabeça.
- “E se há uma erupção vulcânica?” “E se os sismos nas Furnas não param?”
- “E se há um sismo maior?”
- “E se eu quiser isto ou aquilo?”
- “E se houver um concerto que eu queira muito ver”?
- “E se acontecer alguma coisa a alguém da minha família?”
- “E se eu nunca encontrar um emprego”?
- …
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Vista aérea da Lagoa das Sete Cidades |
Eu sei que estas questões não são só restritas a viver numa ilha. São iguais para qualquer pessoa que esteja longe da sua terra natal. Da minha parte, acho que estes sentimentos são mais acentuadas por ser uma ilha. Fico sempre com aquela sensação de que é mais difícil agir. Não haver para onde fugir, por assim dizer.
Antes de vir, muita gente disse que eu era corajosa e que nunca seriam capazes de viver numa ilha. Esse era o meu maior receio. Não me conseguir adaptar a ver todos os dias o oceano, em todos os lados. Mas, pouco a pouco, vou-me habituando.
O que me ajuda diariamente é saber que não estou (nem vim) sozinha. Tenho alguém ao meu lado, que todos os dias me incentiva a ir além das minhas capacidades e acreditar que sou capaz. Alguém que, com os seus pequenos gestos, por vezes inconscientes, me dizem que tudo vai ficar bem e que o amanhã vai ser melhor. Alguém que, no meio da incompreensão, me compreende. Alguém que faz com que não me sinta um fardo e inútil, o que é uma tarefa extremamente difícil. E por estar ao lado do M. é que me sinto grata.
Mas nem tudo é mau. Há muitas coisas boas e um dia escreverei sobre elas.